terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Jobinianas


Chora manso, bem baixinho... Há exatos 15 anos, morreu
Antônio Carlos Jobim, o mestre da canção, o compositor brasileiro mais gravado e reverenciado no mundo, o músico que, ao lado de João Gilberto, renovou a tradição da MPB ao unir harmonias de jazz e música de câmara ao ritmo do samba e, assim, formatar a bossa nova. Seja na suavidade rica da bossa, no diálogo com Villa-Lobos no disco "Matita Perê" (1973), nos sambas do início da carreira, no álbum "Passarim" (1987), ouvi-lo é sempre fascinante. Façamos isso logo, então.

O vídeo abaixo é um registro gracioso de um encontro de Tom com João, em 1992, em que este lembra uma introdução feita a Garota de Ipanema, especialmente para um show que reuniu os dois, Vinícius de Moraes e o conjunto vocal Os Cariocas, trinta anos antes, num restaurante do Rio. Foi nesse show, chamado "Encontro", em que Garota foi apresentada pela primeira vez. João começava cantando: "Tom, e se você fizesse agora uma canção/ Que possa nos dizer/ Contar o que é o amor?". No que Tom seguia: "Olha, Joãozinho, eu não saberia/ Sem Vinicius pra fazer a poesia..." Vinicius emendava: "Para essa canção se realizar/ Quem dera o João para cantar..." E o modesto João encerrava o assunto: "Ah, mas quem sou eu?/ Eu sou mais vocês/ Melhor se nós cantássemos os três..." E, então, finalmente eles iam de "Olha que coisa mais linda/ Mais cheia de graça...", a sincopada melodia de Jobim que, aliada aos dissílabos de Vinicius, tão bem representa o 'balanço' da garota a caminho do mar.



Já este aqui é uma gravação de 1962 (mesmo ano do show acima citado), para um programa da TV americana, com Tom ensinando o grande saxofonista barítono Gerry Mulligan, no apartamento dele em Nova York, a tocar o Samba de uma Nota Só. Gerry, ao clarinete, atrapalha-se com a rhythm section na última frase da melodia, mas Jobim o ajuda a entrar no compasso.



Tom reúne o nacional e o internacional, o rigor e a informalidade, a tristeza e a alegria, a complexidade e a simplicidade. Com sua música, olhava "para dentro" e "para fora" ao mesmo tempo - uma atitude rara nesses trópicos. É uma pena que os jornais não tenham falado dele hoje... Se todos fossem iguais a Tom Jobim, que maravilha seria.

(Lucas Colombo)

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